terça-feira, 21 de novembro de 2017

Sonhando acordado: Amsterdam - E o despertador tocou...

Esse provavelmente será o penúltimo post da série Sonhando acordado: Amsterdam. Penúltimo porque depois que voltar ao Brasil pretendo escrever mais um sobre a volta, etc.
Quero deixar claro que aqui estou falando da minha experiência, não é uma regra universal, cada pessoa pode reagir diferente mesmo com situações semelhantes.
Feitas essas considerações, vamos aos post.

Terça de manhã acordei mais cedo do que precisava, olhei no relógio e marcava 05:25 da manhã. Acordei meio assustado por causa do sonho que tive.

Sonhei que estava estudando fora do Brasil, mais especificamente em Amsterdam, Holanda. O motivo de ser na Holanda? Não faço ideia. As únicas coisas que sabia sobre esse país era que eles nos eliminaram na penúltima Copa do Mundo e na última ganharam de nós a terceira colocação. Ou seja, não eram boas recordações.
Não é fácil definir em poucas palavras como foi o sonho, mas lembro de algumas coisas marcantes...

Pela primeira vez na vida, tive que me virar em um lugar totalmente estranho, com pessoas desconhecidas em um idioma que não era o meu nativo. Sim, antes tive algumas experiências parecidas, como por exemplo, no Japão, quando viajei sozinho sem saber falar japonês, ou então quando fui para Porto Alegre, lugar que não tinha nenhum conhecido. Porém, essas experiências duraram apenas alguns dias, em Amsterdam foram meses.

Precisei dar a cara para bater, tive que aprender sobre a cultura da cidade. As pessoas pareciam que sempre estavam com pressa, bicicletas para cima e para baixo, um caos. Também precisei arriscar, falar sem medo de errar ou não ser compreendido. Várias vezes senti meu inglês insuficiente, mas não tinha outra escolha.

O dinheiro que recebi para estudar era limitado e foi uma vida bastante simples, sem regalias, tudo para aprender a gerenciar a quantia que tinha. A regra era: é barato e não vai me matar? Está ótimo!

Porém, talvez o ponto mais difícil foram as amizades. Eu já sabia que não sou uma pessoa extrovertida que faz um amigo a cada aperto de mão. Então precisei me esforçar um pouco. E aí descobri um pouco mais sobre meus paradoxos. Gosto de ter amigos a minha volta, mas nem sempre, porque preciso de meus momentos sozinho. Ao mesmo tempo, ficar sozinho por muito tempo, desgasta e cria uma sensação estranha de isolamento. Já ouvi sobre tentar se envolver com as pessoas de forma profunda, mas isso é mais complexo do que parece. Primeiro porque a outra pessoa precisa pensar a mesma coisa, segundo porque, pelo menos para mim, amizade não se força, surge. E sinceramente, não sei explicar como.

Por outro lado, mesmo com algumas dificuldades, aprendi um pouco mais sobre ser humano, ser alguém de carne e osso. Alguém que tem apreço pela vida e tenta aproveitar de forma equilibrada. Aprendi um pouco mais sobre minha própria identidade e jeito de ser.
Fiz amigos sim, conheci pessoas com histórias incríveis, com realidades e formas de ver o mundo totalmente diferentes de mim. Isso me acrescentou muito como pessoa.
Visitei lugares incríveis, com arquitetura antiga, arquitetura moderna, parques, fazendas, moinhos de vento, canais, museus, zoológico. Tudo de forma bastante tranquila e segura. O que gerou outro paradoxo, a vontade de ficar com a vontade de voltar para o Brasil.

Talvez essa seja a principal questão para quem mora fora do Brasil depois de ter crescido nele. Em termos de economia, segurança e política é bastante desanimador. Só que se tratando de língua, amigos, família, comida, é bastante difícil não ter saudades.
Outros questionamentos surgem: então o que é melhor? Simplesmente arrumar as malas e sair do país para sempre ou ficar e tentar construir um lugar melhor? O que pesa mais?
Óbvio que não tenho respostas para isso ainda, não é uma decisão fácil de se tomar tanto porque também é preciso portas abertas para morar fora.

Eu já tinha ouvido e lido sobre paradoxos pelo meu professor Jonathan Menezes, mas nesse sonho, os percebi melhor em minha vida.

Depois de lembrar desses pontos, o sono bateu, como ainda era cedo, resolvi voltar a dormir. 

7:15 o despertador tocou... Acordei e percebi que tudo aquilo era real.

domingo, 12 de novembro de 2017

Sonhando acordado: Amsterdam - Memórias de um país que sofreu na II Guerra Mundial.

AVISO: Esse post será um pouco mais longo que de costume. Mas tenha paciência, espero que seja interessante. 

Há alguns meses atrás li o Diário de Anne Frank e comentei um pouco sobre o que achei. Semana passada tive a oportunidade de visitar o escritório na qual ela e seus familiares ficaram refugiados durante 2 anos. Lugar que hoje é o museu Anne Frank. 
Infelizmente não é possível tirar fotos lá de dentro, mas parece que o museu foi feito de maneira bastante cuidadosa para ir gradativamente revelando a tensão vivida pelos judeus. Inicialmente conta um pouco sobre a família de Anne, alguns retratos e depois começa falando sobre a invasão nazista, a discriminação sofrida até que em um determinado momento, Margot, a irmã de Anne Frank recebe uma convocação. Ali começava o terror.

A medida que vamos subindo os andares e descobrindo o esconderijo, vemos nas paredes frases de Anne, ilustrações de como eram os cômodos, notícias dos jornais, alguns objetos que eles tinham, o que literalmente materializa o que lemos no livro. A sensação é extremamente estranha. Os cômodos vão diminuindo, assim como o tempo dos habitantes do Anexo Secreto. Um dos últimos lugares visitados no esconderijo é o quarto de Peter, aquele que Anne se aproximou mais nos últimos meses antes de serem descobertos, um lugar muito pequeno, quase no ático. Por fim, andamos para outro espaço, que fala sobre o destino de cada um dos refugiados. Ali, alternamos momentos de tristeza e pesar por quem faleceu rapidamente em um campo de concentração, com admiração por quem sobreviveu e lutou para que o Diário fosse publicado. Antes da saída, vários depoimentos de pessoas que leram o Diário e foram inspirados por Anne, impossível não se emocionar e refletir sobre a violência que somos capazes
Quarto de Anne no Anexo Secreto. Fonte: cademinhamala.com
Além de visitar um lugar icônico na II Guerra Mundial, passei por outros dois lugares que vivenciaram de perto terror e tristeza e que hoje guardam memórias. Um pequeno vilarejo ao leste da Holanda chamado Elst e uma cidade ao sul, Rotterdam.

Igreja de Elst atualmente.
Em Elst existe uma bela Igreja que desde o século I é um lugar sagrado. No ano 50 dC os romanos construíram um templo, que por causa de uma rebelião os batavos (moradores da região) foi destruído. Por volta do ano 100 dC reconstruíram um templo maior que durou até o século III. No século VIII o lugar foi novamente importante, dando lugar a uma Igreja cristã. Com o passar do tempo ela foi sendo ampliada até que no século XV, foi reconstruída com uma característica gótica.
Igreja bombardeada em Elst.
Fonte: romeinselimes.nl 

Na II Guerra, como a região de Elst faz fronteira com a Alemanha, foi um lugar de resistência contra os nazistas, consequentemente, o vilarejo foi castigado com bombardeios. A Igreja foi bombardeada em 1944. Somente em 1953 ela foi reconstruída e nesse período de reconstrução que foram descobertos os vestígios das construções anteriores. Hoje existe um museu na Igreja que mostra a história daquele espaço.  

Rotterdam também é outra cidade que viveu de forma significativa os prejuízos da Guerra. Ela foi bombardeada em 1940 e uma escultura expressa o sentimento das pessoas. O artista que fez a escultura se baseou em sua chegada a cidade destruída em 1946.   

Estátua "A cidade destruída" de Ossip Zadkine.
Hoje Rotterdam é uma das cidades mais bonitas da Holanda, contando com um design bastante moderno. Quem vê a cidade hoje, sem saber de seu passado, pode não imaginar que este mesmo lugar tão belo já sofreu uma grande devastação. 
Ponte Erasmus em Rotterdam.
Por não ter vivenciado a Guerra, ter passado por esses lugares foi bastante impactante. Ao mesmo tempo que dói ver vestígios da história, da crueldade das pessoas, me faz refletir sobre a importância do respeito, do diálogo e da tolerância. Talvez esse seja um dos motivos que faz a Holanda ser bastante receptiva com estrangeiros, as memórias de um país que sofreu na II Guerra.

domingo, 5 de novembro de 2017

Sonhando acordado: Amsterdam - Contrastes.

Esses dias atrás estava preparando uma apresentação sobre o Brasil e pensei nos contrastes que temos. Por exemplo em São Paulo, o centro comercial do Brasil, prédios altos e muito capital circulando por ali. Ao mesmo tempo, na mesma cidade, vemos favelas com pessoas vivendo com o mínimo possível.

Aqui na Holanda também encontrei contrastes. Em Amsterdam a vida é bem movimentada especialmente no centro. Pessoas por todos os lados, bicicletas, carros, trams, barulho, idiomas diferentes tudo tentando dividir o mesmo espaço. Mas quando nos distanciamos um pouco e encontramos um parque, parece outro mundo. Bastante verde, uma paisagem bastante agradável, pessoas levando seus animais para passear, famílias. 
Centro de Amsterdam 18:00 de uma sexta-feira. Clique para ampliar
Sloterpark em Amsterdam. Clique para ampliar
E esse contraste vai além quando vamos para o interior. Tive a oportunidade em visitar uma região de criação de vacas leiteiras e os pequenos vilarejos quase me confundiram por um momento, me fazendo imaginar que estava no interior do Brasil. E ainda nesse final de semana fui para um pequeno vilarejo no leste da Holanda, um lugar bastante calmo, quieto, tranquilo. (Talvez seja ignorância minha pensar que a Holanda existiam somente cidades agitadas como Amsterdam. E é óbvio que também no Brasil esse contraste cidade x interior existe, mas aqui para mim é um pouco diferente porque em Amsterdam vejo gente de diversas partes do mundo, coisa que não vejo na minha realidade no Brasil). 

Interior da Holanda. Clique para ampliar
Mas fato é que a vida também passa por esses contrastes. Em alguns momentos vivemos momentos de bastante euforia, atividades, compromissos e quase não temos tempo para respirar. Em outros nossa rotina é mais cadenciada, algo um pouco mais flexível e fluido.É válido tentarmos identificar em qual momentos estamos e assim tentar desfrutar melhor o tempo que temos.