domingo, 12 de novembro de 2017

Sonhando acordado: Amsterdam - Memórias de um país que sofreu na II Guerra Mundial.

AVISO: Esse post será um pouco mais longo que de costume. Mas tenha paciência, espero que seja interessante. 

Há alguns meses atrás li o Diário de Anne Frank e comentei um pouco sobre o que achei. Semana passada tive a oportunidade de visitar o escritório na qual ela e seus familiares ficaram refugiados durante 2 anos. Lugar que hoje é o museu Anne Frank. 
Infelizmente não é possível tirar fotos lá de dentro, mas parece que o museu foi feito de maneira bastante cuidadosa para ir gradativamente revelando a tensão vivida pelos judeus. Inicialmente conta um pouco sobre a família de Anne, alguns retratos e depois começa falando sobre a invasão nazista, a discriminação sofrida até que em um determinado momento, Margot, a irmã de Anne Frank recebe uma convocação. Ali começava o terror.

A medida que vamos subindo os andares e descobrindo o esconderijo, vemos nas paredes frases de Anne, ilustrações de como eram os cômodos, notícias dos jornais, alguns objetos que eles tinham, o que literalmente materializa o que lemos no livro. A sensação é extremamente estranha. Os cômodos vão diminuindo, assim como o tempo dos habitantes do Anexo Secreto. Um dos últimos lugares visitados no esconderijo é o quarto de Peter, aquele que Anne se aproximou mais nos últimos meses antes de serem descobertos, um lugar muito pequeno, quase no ático. Por fim, andamos para outro espaço, que fala sobre o destino de cada um dos refugiados. Ali, alternamos momentos de tristeza e pesar por quem faleceu rapidamente em um campo de concentração, com admiração por quem sobreviveu e lutou para que o Diário fosse publicado. Antes da saída, vários depoimentos de pessoas que leram o Diário e foram inspirados por Anne, impossível não se emocionar e refletir sobre a violência que somos capazes
Quarto de Anne no Anexo Secreto. Fonte: cademinhamala.com
Além de visitar um lugar icônico na II Guerra Mundial, passei por outros dois lugares que vivenciaram de perto terror e tristeza e que hoje guardam memórias. Um pequeno vilarejo ao leste da Holanda chamado Elst e uma cidade ao sul, Rotterdam.

Igreja de Elst atualmente.
Em Elst existe uma bela Igreja que desde o século I é um lugar sagrado. No ano 50 dC os romanos construíram um templo, que por causa de uma rebelião os batavos (moradores da região) foi destruído. Por volta do ano 100 dC reconstruíram um templo maior que durou até o século III. No século VIII o lugar foi novamente importante, dando lugar a uma Igreja cristã. Com o passar do tempo ela foi sendo ampliada até que no século XV, foi reconstruída com uma característica gótica.
Igreja bombardeada em Elst.
Fonte: romeinselimes.nl 

Na II Guerra, como a região de Elst faz fronteira com a Alemanha, foi um lugar de resistência contra os nazistas, consequentemente, o vilarejo foi castigado com bombardeios. A Igreja foi bombardeada em 1944. Somente em 1953 ela foi reconstruída e nesse período de reconstrução que foram descobertos os vestígios das construções anteriores. Hoje existe um museu na Igreja que mostra a história daquele espaço.  

Rotterdam também é outra cidade que viveu de forma significativa os prejuízos da Guerra. Ela foi bombardeada em 1940 e uma escultura expressa o sentimento das pessoas. O artista que fez a escultura se baseou em sua chegada a cidade destruída em 1946.   

Estátua "A cidade destruída" de Ossip Zadkine.
Hoje Rotterdam é uma das cidades mais bonitas da Holanda, contando com um design bastante moderno. Quem vê a cidade hoje, sem saber de seu passado, pode não imaginar que este mesmo lugar tão belo já sofreu uma grande devastação. 
Ponte Erasmus em Rotterdam.
Por não ter vivenciado a Guerra, ter passado por esses lugares foi bastante impactante. Ao mesmo tempo que dói ver vestígios da história, da crueldade das pessoas, me faz refletir sobre a importância do respeito, do diálogo e da tolerância. Talvez esse seja um dos motivos que faz a Holanda ser bastante receptiva com estrangeiros, as memórias de um país que sofreu na II Guerra.

4 comentários:

  1. "Apesar de tudo, ainda acredito na bondade humana."
    - Anne Frank
    Esperava que vc conseguisse visitar algum local relacionado a II guerra dps de ler
    sobre sua descorbeta da história de Anne Frank e o que achou. Ainda não li o livro, conheço a história pelo filme e documentários. É chocante como ficam marcados os países que passaram por guerras, se reflete em tudo: até nas artes (as esculturas e museus). Realmente visitar lugares que foram cenários dessas tragédias deve ter uma atmosfera de solenidade, já fui duas vezes no Museu do Holocausto de Curitiba e o sentimento lá é o mesmo. (Recomendo a vista, ainda que o lugar n seja onde as histórias que eles apresentam aconteceram, o museu entrega uma experiência muito próxima do que os judeus viveram. A frase acima esta na parede de fora do museu na entrada.)
    O que o ser humano é capaz de fazer é assustador, o poder de manipulação pra que a ideologia de um se tornasse uma questão de "patriotismo" de muitos, de fato nos faz pensar sobre o respeito ao próximo... Muito interessante seu post!

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    1. Não sabia que em Curitiba tem um museu do Holocausto, da próxima vez que for para lá vou ver se consigo agendar para visitar.
      O assunto de patriotismo, "raça" é bastante complexo e hoje na Holanda estão discutindo sobre os muçulmanos que moram aqui. Uma minoria os considera ameaça, mas talvez seja porque eles são diferentes, falam uma língua diferente. Por outro lado, acredito que para diminuir o pré-conceito, o governo diz que todos os refugiados precisam aprender o holandês. O que possivelmente ajuda em quebrar alguns paradigmas e retirar ameaças.

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  2. Aaa, o post que eu mais esperei! Imagino o misto de emoções que você deve ter sentido ao visitar esses lugares que foram palco de tanto sofrimento. O intercâmbio está de dando lembranças maravilhosas, que bom que está curtindo ao máximo. Estou amando cada post, esse em especial ☺️

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    1. Sim, foi bastante impactante e algo que sem dúvida está me marcando.
      Preciso aproveitar mesmo porque o tempo voa.
      Fico feliz pelo feedback!

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