Esse provavelmente será o penúltimo post da série Sonhando acordado: Amsterdam. Penúltimo porque depois que voltar ao Brasil pretendo escrever mais um sobre a volta, etc.
Quero deixar claro que aqui estou falando da minha experiência, não é uma regra universal, cada pessoa pode reagir diferente mesmo com situações semelhantes.
Feitas essas considerações, vamos aos post.
Terça de manhã acordei mais cedo do que precisava, olhei no relógio e marcava 05:25 da manhã. Acordei meio assustado por causa do sonho que tive.
Sonhei que estava estudando fora do Brasil, mais especificamente em Amsterdam, Holanda. O motivo de ser na Holanda? Não faço ideia. As únicas coisas que sabia sobre esse país era que eles nos eliminaram na penúltima Copa do Mundo e na última ganharam de nós a terceira colocação. Ou seja, não eram boas recordações.
Não é fácil definir em poucas palavras como foi o sonho, mas lembro de algumas coisas marcantes...
Pela primeira vez na vida, tive que me virar em um lugar totalmente estranho, com pessoas desconhecidas em um idioma que não era o meu nativo. Sim, antes tive algumas experiências parecidas, como por exemplo, no Japão, quando viajei sozinho sem saber falar japonês, ou então quando fui para Porto Alegre, lugar que não tinha nenhum conhecido. Porém, essas experiências duraram apenas alguns dias, em Amsterdam foram meses.
Precisei dar a cara para bater, tive que aprender sobre a cultura da cidade. As pessoas pareciam que sempre estavam com pressa, bicicletas para cima e para baixo, um caos. Também precisei arriscar, falar sem medo de errar ou não ser compreendido. Várias vezes senti meu inglês insuficiente, mas não tinha outra escolha.
O dinheiro que recebi para estudar era limitado e foi uma vida bastante simples, sem regalias, tudo para aprender a gerenciar a quantia que tinha. A regra era: é barato e não vai me matar? Está ótimo!
Porém, talvez o ponto mais difícil foram as amizades. Eu já sabia que não sou uma pessoa extrovertida que faz um amigo a cada aperto de mão. Então precisei me esforçar um pouco. E aí descobri um pouco mais sobre meus paradoxos. Gosto de ter amigos a minha volta, mas nem sempre, porque preciso de meus momentos sozinho. Ao mesmo tempo, ficar sozinho por muito tempo, desgasta e cria uma sensação estranha de isolamento. Já ouvi sobre tentar se envolver com as pessoas de forma profunda, mas isso é mais complexo do que parece. Primeiro porque a outra pessoa precisa pensar a mesma coisa, segundo porque, pelo menos para mim, amizade não se força, surge. E sinceramente, não sei explicar como.
Por outro lado, mesmo com algumas dificuldades, aprendi um pouco mais sobre ser humano, ser alguém de carne e osso. Alguém que tem apreço pela vida e tenta aproveitar de forma equilibrada. Aprendi um pouco mais sobre minha própria identidade e jeito de ser.
Fiz amigos sim, conheci pessoas com histórias incríveis, com realidades e formas de ver o mundo totalmente diferentes de mim. Isso me acrescentou muito como pessoa.
Visitei lugares incríveis, com arquitetura antiga, arquitetura moderna, parques, fazendas, moinhos de vento, canais, museus, zoológico. Tudo de forma bastante tranquila e segura. O que gerou outro paradoxo, a vontade de ficar com a vontade de voltar para o Brasil.
Talvez essa seja a principal questão para quem mora fora do Brasil depois de ter crescido nele. Em termos de economia, segurança e política é bastante desanimador. Só que se tratando de língua, amigos, família, comida, é bastante difícil não ter saudades.
Outros questionamentos surgem: então o que é melhor? Simplesmente arrumar as malas e sair do país para sempre ou ficar e tentar construir um lugar melhor? O que pesa mais?
Óbvio que não tenho respostas para isso ainda, não é uma decisão fácil de se tomar tanto porque também é preciso portas abertas para morar fora.
Eu já tinha ouvido e lido sobre paradoxos pelo meu professor Jonathan Menezes, mas nesse sonho, os percebi melhor em minha vida.
Depois de lembrar desses pontos, o sono bateu, como ainda era cedo, resolvi voltar a dormir.
7:15 o despertador tocou... Acordei e percebi que tudo aquilo era real.
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