Semana passada (19/07/18) tive a oportunidade de participar da recepção da princesa japonesa Mako de Akishino em Londrina. Foi um evento restrito e feito sem muito alarde. De acordo com o protocolo, ela deveria passar no meio da rua. Nós estávamos na calçada. Caso viesse em nossa direção, não podíamos estender a mão para cumprimentá-la, ela que deveria tomar a iniciativa.
Para a minha surpresa, e talvez para a surpresa de todos os presentes, ela passou muito próximo do público e começou a cumprimentar as pessoas até um de seus assessores ou seguranças, informar que ela deveria ir mais rápido. Ela passou em nossa frente muito educadamente olhando para nós pedindo desculpas e mais para a frente continuou cumprimentando as pessoas.
Aquilo me chamou bastante a atenção. Afinal, minha concepção de família imperial japonesa é de que ninguém poderia chegar perto e talvez nem olhar nos olhos.
Porém, a atitude da princesa foi surpreendente. A forma humilde como ela tratou as pessoas juntamente com outras coisas que li e vi me fez refletir sobre a dignidade que todo ser humano merece ter.
Me lembrei de quando visitei um trabalho de ação social na Holanda e uma das fundadoras disse que o objetivo do lugar era dar um pouco de dignidade para as pessoas. Ali eles recebem todos os tipos de pessoas, inclusive aquelas que a sociedade exclui.
Também me lembrei de um livro que estou lendo chamado "A coragem de ser imperfeito" da Brené Brown. No livro tem a seguinte afirmação: "Não importa o que eu fizer hoje ou o que eu deixar de fazer, eu tenho meu valor". Ela enfatiza a auto-aceitação que não é medida pelo desempenho, mas pelo simples ser. A ideia de ser aceito e amado por ser quem somos.
Por fim, vi recentemente uma reportagem de uma líder de uma banda cristã bem influente nos EUA chamada Kim Walker, dizendo que os jovens estão cansados da falta de transparência dos líderes religiosos.
O que tudo isso tem a ver?
Por um lado vemos "digital influencers" falando de uma "vida perfeita" nas redes sociais. Mostrando lugares paradisíacos, com luxo, conforto, ostentação como se fosse algo normal e acessível para todos. O resultado é uma sociedade que tem ficado doente por ansiedade, depressão, exaustão.
Por outro lado, parece haver um movimento, que traz a humanização e a dignidade que todos merecem ter. Uma princesa que se preocupa em passar perto e cumprimentar as pessoas, um lugar que não faz pré julgamentos pela roupa ou pelo status social da pessoa, uma mulher que admite sua vulnerabilidade e expõe a importância de sermos amados por quem somos, uma líder de uma banda influente que afirma que não é possível viver de aparências.
A conclusão pelo menos momentânea que chego é: ninguém tem uma vida perfeita, não devemos exigir isso dos outros e nem tentar fingir que temos. Por isso é preciso tratar as pessoas com dignidade, dizer um "obrigado" olhando nos olhos. Entendo que às vezes não é fácil, estamos atarefados, com pressa, pressionados, mas a vida é a coisa mais valorosa que existe. Precisamos de humildade, precisamos de compaixão, precisamos de amor. Todos merecem pelo menos um pouco de dignidade e respeito, afinal, todos somos da mesma "raça", somos humanos.