Ela saiu de seu trabalho após um dia bastante cheio e cansativo. Seus chefes haviam pedido para fazer um prato diferente e ela teve que correr até o supermercado para fazer as compras além de cuidar das crianças. Maria pegou o ônibus no horário do rush e apesar de estar exausta, nem se importou com a falta de espaço e o empurra-empurra. Sua cabeça estava longe...
Há algumas noites não dormia direito porque pensava na vida. Pensava na sua adolescência humilde no interior do estado. Lembrava de seus irmãos e de seu pai que deixara para tentar a vida na capital.
"Por que tanta diferença? Por que uns tem tanto e outros tão pouco?" - pensava. "Podia ter nascido em uma família rica e estruturada... Mas não foi assim...".
Em meio a lamento e um pouco de indignação, teve sobriedade quando reconheceu seu esforço até ali e talvez mudar a realidade da humanidade estava longe de seu alcance.
Mas naquele dia, dentro do ônibus lotado, Maria começou a pensar: "Então para quê é a vida?".
Em seguida começou a se lembrar de pessoas que fizeram parte de seus primeiros meses na nova casa: do seu Juca, dono da padaria, da simpática dona Matilde que alugava a kitnet ao fundo de sua casa e da Jaqueline, que trabalhava no mesmo prédio que ela. Deu então um suspiro profundo... "Ah! Como essas pessoas foram importantes!"
Vieram à sua mente as boas memórias quando foi surpreendida pelo seus chefes com uma cesta de Natal, das vezes que seu pai conseguiu visitá-la e do susto que ele levou na primeira vez viu uma porta automática no shopping, do belo por do sol que conseguia ver de seu quarto. Quantas simples coisas boas em meio ao suor de cada dia!
Enquanto as lágrimas escorriam do seu rosto, ela sabia, não podia simplesmente desistir, sabia que a vida era preciosa demais para ser jogada fora.
"A vida é para batalhar, a vida é para viver momentos inesquecíveis, a vida é para conviver com outras pessoas, a vida é para amar, a vida é para sorrir e para chorar, cada um em seu tempo, a vida é para ser vivida... com intensidade e responsabilidade."
Naquele dia, seu corpo estava cansado, mas seu coração estava grato. Grato porque pessoas fizeram parte de sua história. Grato porque o passado lhe ensinava. Grato porque apesar das dificuldades, podia viver mais um dia.
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